Macri perde aliado sindical e a pressão social cresce

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Por Rubén Armendáriz

Em outubro de 2015, duas semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, Hugo Moyano, presidente da central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT) vislumbrava uma realidade diferente. Nas celebrações do aniversário de Perón, lá estava Hugo ao lado do então candidato Mauricio Macri. A homenagem que fez junto ao busto do velho caudilho e com Macri ao seu lado era simbólica como imagem: o sindicalista se apresentava na campanha como “o laço peronista do macrismo”.

Ambos os aliados (Macri e Moyano) tinham objetivos distintos. Moyano era o líder dos caminhoneiros, queria assegurar uma velhice mais tranquila, após colocar seu genro, Claudio Tapia, na presidência da Associação de Futebol da Argentina (AFA), enquanto ele mesmo presidia o famoso clube Independiente de Avellaneda. Para resguardar seus negócios e garantir sua força dentro do mundo sindical, impulsionaou as figuras de seus filhos Pablo e Facundo e de seu amigo Juan Carlos Smith dentro da CGT.

Porém, Macri tinha outras ideias. Queria ter um aliado sindical para as medidas de flexibilização dos direitos trabalhistas e redução dos custos do transporte, e teve mais sucesso com suas intenções.

Mas aí começaram os problemas. As aventuras empresariais de Moyano apresentam sérios problemas e a Justiça macrista o acossa. A CGT está quebrada internamente. E enquanto isso, Macri avança com suas políticas de ajuste e flexibilização.

O conflito entre ambos vem crescendo há tempos. Moyano se apoia na profunda deterioração das condições de vida da população e tenta se colocar na linha da oposição social, que alguns interpretam como ameaças – por frases como “a este governo lhe resta pouco tempo”. No próximo dia 21 de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas deverão ir às ruas para manifestar sua raiva e desespero.

Para a maioria, será o momento de desafogar seu drama pessoal e o drama social que o país atravessa. Para Moyano, será seu escudo, o qual Macri deverá enfrentar para manter sua política socioeconômica, e se pretende avançar penalmente contra seu outrora aliado de ocasião. A punga também mostra mais um indício de uma nova e duramente trabalhada unidade peronista que vem se construindo.

Na última semana, os inéditos 10 mil evacuados do norte por causa das inundações – quase todos indígenas e pobres – são a contracapa da Argentina europeia da Zona Central e dos centros urbanos das grandes cidades.

“Macri e sua equipe defendem com tanta soberba os piores interesses econômicos que um dia esses ventos podem se transformar numa tempestade contra o governo”, comenta o analista político Juan Guhán, que deu um exemplo: “o governo pede aos trabalhadores que aceitem um teto de 15% para os aumentos salariais sem uma cláusula para corrigir o valor caso a inflação supere essa cifra. Mas emite novos bonos de dívida, ou seja, continua se endividando, e sim, com cláusula de correção dos juros caso a inflação suba acima do estimado, para assegurar os lucros do setor financeiro”.

Força-Tarefa

Em plena temporada de férias, o governo trouxe uma nova surpresa: decidiu integrar às Forças Armadas a recentemente criada Força de Ação Rápido (FDR, em sua sigla em espanhol) para combater o terrorismo e o narcotráfico, depois que um policial fora de serviço perseguiu um delinquente fez vários disparos e o matou. Um juiz ousou processá-lo por homicídio. Macri recebeu o policial pessoalmente para dar a ele o seu apoio.

A ministra de Segurança Patricia Bullrich considera que se está construindo uma nova doutrina segundo a qual o Estado deve realizar ações para impedir o delito. Isso supõe investir mais em casos de enfrentamentos, onde os policiais, se cometem abusos ou atacam sem provas, podem ir presos – o que até agora não aconteceu. Também serve para legitimar o “gatilho fácil” e as execuções sem julgamento prévio, o que deveria requerer uma reforma do Código Penal, o que ainda não foi produzido, nem se debatido, nem apresentado.

Durante uma viagem a Washington, Bullrich anunciou a instalação de uma força-tarefa da agência estadunidense antidrogas na fronteira norte. Além disso, concretizou um acordo com o FBI para capacitar agentes da Polícia Federal. O Comando Sul promove a intervenção das Forças Armadas nas questões vinculadas com o narcotráfico, e Bullrich é obediente.

Enquanto se espera a grande manifestação do dia 21, a pressão social cresce. Os bancários fizeram uma greve na sexta-feira passada, que se reproduziu em todos o país, depois que o governo propôs um teto de 9% para os aumentos da categoria, enquanto a inflação supera o patamar de 24%.

“Paixão de multidões, o futebol não serve de pesquisa eleitoral, mas funciona como termômetro do sociólogo. Mede processos emocionais das massas, sintomas que aparecem no canto das torcidas, como as primeiras espinhas que anunciam a adolescência. Se uma torcida começa a xingar um nome nos estádios quer dizer que está perdendo a paciência com ele. Às vezes, os cantos das torcidas são indecifráveis para quem não conhece esse mundo, mas um grito como `Mauricio Macri, vá pra p… que o pariu´, como vem se escutando em alguns estádios argentinos ultimamente, não requer maiores explicações”, relata o jornalista Luis Bruschtein, editor do diário Página/12.

Rubén Armendáriz é jornalista e cientista político uruguaio, analista do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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