Colombia: Cenário para eleições presidenciais se definirá em março

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Por Camilo Rengifo Marín

A dinâmica eleitoral presidencial está em modo de espera. Será preciso esperar até o dia 11 de março, quando acontecerá a eleição legislativa, na qual as máquinas clientelistas dos partidos tradicionais da direita mostram todos os seus dentes, e usualmente se impõem, saindo mais fortes para a posterior batalha pelo Executivo.

A partir desse dia, saberemos quais serão os candidatos com fôlego para encarar as eleições presidenciais de maio. Em março, o país viverá uma espécie de primária. Até agora, as pesquisas refletem uma opinião mais de anseio geral da população, sem a influência da máquina eleitoral dos partidos tradicionais, que não têm pressa em definir suas alianças e candidaturas.

No último fim de semana apareceram novas pesquisas publicadas, e entre elas há muitas diferenças nos números e até na ordem dos candidatos, embora todas mostrem uma tendência clara: Sergio Fajardo (centro-esquerda) e Gustavo Petro (esquerda) lideram com significativa vantagem sobre os demais.

Outro dado importante: ao somar os votos daqueles presidenciáveis que apoiaram o “Sim” aos acordos de paz no plebiscito de 2016, eles ganham por muito da soma dos candidatos que apoiaram o “Não”.

Não se pode esquecer que as pesquisas medem a opinião de momento, e portanto não detectam o poder das maquinárias eleitorais nem a compra de votos. Por isso, é lógico concluir que a votação de Germán Vargas Lleras – que foi vice-presidente durante a maior parte deste segundo mandato de Juan Manuel Santos –, por exemplo, está muito aquém nas cifras atuais, embora tenha potencial de ser muito mais.

A definição do candidato da coalizão ultradireitista Centro Democrático, dos ex-presidentes Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, será entre Marta Lucía Ramírez e Iván Duque. Quem for escolhido certamente será catapultado à condição de candidato de peso para uma vaga no segundo turno.

A esquerda parece vacinada pela cautela, a qual manda dizer que o melhor é liderar as pesquisas no final da campanha, e não no começo. Estar na frente já na largada traz consequências e custos, como ser o alvo dos ataques dos demais. Se a ultradireita conseguiu colocar até mesmo no direitista liberal Santos a pecha de “castrochavista”, imaginem o que tentará dizer de Fajardo, e sobretudo de Petro.

Fajardo aparece como a cabeça visível de uma coalizão que apresenta disparidade ideológica, contradições programáticas e poucas possibilidades de ter uma representação significativa no próximo Congresso.

Ainda falta muito o que acontecer nos quase quatro meses que faltam para o primeiro turno, e entre essas coisas está a eleição legislativa. Outras variáveis que pesarão são a situação econômica, as investigações judiciais, a possível influência das eleições na Venezuela, a influência dos Estados Unidos, e a forma como se usarão os acordos de paz durante a campanha, considerando que ainda se trata de um país em guerra, e uma guerra onde ninguém pode subestimar o poder das notícias falsas.

Na década passada, enquanto a América Latina caminhou para a esquerda, a Colômbia optou pela extrema direita. Quem sabe o país continue tentado ser o bicho estranho da vizinhança, e agora que o resto da região se volta à direita, o país tome, pela primeira vez em sua história, o outro caminho, elegendo alguém disposto a combater a corrupção e propiciar mudanças democráticas.

O Partido Conservador e o Partido da Unidade, governistas desde o governo de Álvaro Uribe e também no de Juan Manuel Santos, não apresentaram ainda seus candidatos próprios, embora se calcule que teriam um potencial de ao menos 4 milhões de votos. O Partido da Unidade saiu das últimas legislativas com a maior bancada no Senado (21), mas perdeu três por problemas jurídicos (condenações por corrupção). Em outubro, a convenção do partido decidiu não apoiar nenhuma candidatura até março, apesar de Germán Vargas Lleras, já estar em campanha, assim como Humberto de la Calle.

A demora no processo para definir o candidato presidencial da aliança de Uribe e Pastrana ajuda a potenciar a imagem de Sergio Fajardo, líder da Coalizão Colômbia, e fazê-la mais popular.

Nenhuma campanha política é fácil, ainda mais neste 2018, que parece ser um ponto de inflexão ideológica na Colômbia, tanto pela possível alternância de poder que pode haver tanto no Executivo quanto no Legislativo – em termos de equilíbrios – como pela presença, dentro do cenário democrático, das FARC, outrora Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, agora convertidas no partido político Força Alternativa Revolucionário do Comum.

Muitos são os temas que provocaram a polarização, mas foram os alcances do processo de paz com as FARC que impulsionaram a tendência que está dando forma aos discursos eleitorais. Muitos defendem a solução negociada para pôr fim aos 50 anos de conflito. Outros não enxergam os acordos com bons olhos, e menos ainda a possibilidade de que ex-guerrilheiros sejam eleitos para o Congresso, sem antes passar pela prisão.

Essa foi uma das diretrizes do acordo negociado em Havana, e é o objetivo natural de qualquer processo de paz. Mas estamos falando de um país que viveu por mais de 50 anos os embates do conflito (que trouxe muitos lucros às elites políticas), cujas feridas ainda não foram completamente curadas. E agora querem passar a conta desse ressentimento aos militantes da agora ex-guerrilha, que quer fazer política, mas não parece estar começando bem em sua estreia nas urnas.

A vaias Rodrigo “Timochenko” Londoño durante sua campanha na província de Armênia e o cancelamento de um evento de Iván Márquez em Florência são uma mostra da dura resistência que o partido da FARC provoca, com o uribismo se negando a reconhecê-lo como ator político legítimo.

Camilo Rengifo Marín é economista e acadêmico colombiano, investigador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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