Colombia: A busca pela saída marítima e a reeleição presidencial
Sullkata M. Quilla
Na madrugada do primeiro dia do ano, Morales vaticinou uma decisão favorável ao seu país por parte da Corte Internacional de Justiça (CIJ) na demanda marítima apresentada contra o Chile, o que significaria um grande triunfo e um empurrão à sua reeleição presidencial. A Bolívia pede que o Chile se participe de uma negociação de boa fé e com efeitos vinculantes na perspectiva de recuperar uma saída ao mar, como a que o país teve entre 1825, quando se declarou independente da Espanha, e 1879, quando forças chilenas, durante a Guerra do Pacífico, invadiram o Porto de Antofagasta.
Nessa possível negociação, a Bolívia pretende conseguir um corredor soberano do seu território atual até a um território litorâneo próprio de 20 quilômetros no Oceano Pacífico. O problema da mediterraneidade boliviana, que já dura 148 anos, é um dos grandes objetivos de Morales, que aposta também por outras soluções, como a construção de um trem bi oceânico – esteve recentemente na Suíça e em outros países europeus em busca de um financiamento de 10 bilhões de dólares para o projeto –, que uniria o Porto de Santos, no Brasil com o de Ilo, no Peru, passando pela Bolívia.
Internamente, 2018 será um ano de angústias eleitorais, visando a disputa presidencial que será em 2019. A construção de uma relação de forças para a materialização de qualquer um dos projetos políticos em disputa será resolvida principalmente em cenários distintos ao eleitoral, embora também, como ocorreu em períodos anteriores, terá seu final na disputa eleitoral.
O setor governista, um bloco indígena-camponês-operário, tem forte base popular, mas depois de 12 anos no poder precisa buscar elementos para se reinventar e propor algo mais que o realizado até agora – renovar a proposta, retificar o que é preciso retificar e reforçar todos os aspectos positivos – para manter o poder político conquistado. Os outros setores buscam derrubar este primeiro com o apoio dos Estados Unidos. A direita espera recuperar sua condição de classe politicamente dominante, a qual perdeu em 2005, após 181 anos no poder.
Contudo, o próprio governo reconhece uma certa desaceleração do processo de mudanças a partir de 2010, mas crê que a correlações de forças ainda é favorável ao atual projeto, considerando que o nível de aprovação do primeiro presidente indígena se mantém perto de 60%, o maior registrado por um mandatário da região, apesar das estratégias midiáticas para destruir sua imagem e sua credibilidade.
A direita não é a mesma que no período 2010-2015. Desde a derrota no referendo de 2016, as diferentes oposições, partidárias e midiáticas, às que se incluem as denominadas plataformas cidadãs, fundações e ONG com financiamento externo – em especial das agências do governo estadunidense – sentem que este é o momento de terminar com o processo de mudanças, justo quando a imprensa hegemônica em todo o continente proclama o fim do ciclo progressista na América Latina.
Até o momento, o governo tem sido hábil em desarmar e derrotar as tentativas de conspiração orquestradas por funcionários da embaixada estadunidense com os grupos conservadores da oligarquia local, residentes dentro e fora do país. As falácias dos poderosos meios de comunicação e analistas oficiosos, junto com uma oposição política carente de uma proposta coerente, são capazes de superar a estratégia nacionalista e anti-imperialista executada nos últimos 12 anos.
Enquanto isso, a conexão de Morales com os setores populares e as regiões do país vem se incrementando, com visitas diárias a todos os departamentos do país, com a presença dos movimentos populares através do Pacto de Unidade (camponeses, indígenas do oriente e do ocidente do país, mulheres do campo, colonizadores e juntas comunitárias) e da Coordenadora Nacional pela Mudança, que inclui os sindicatos e a Central Operária Boliviana (COB).
Estas organizações cresceram como suporte mobilizador do povo. As massivas concentrações realizadas nos últimos três meses em todas as cidades da Bolívia, apoiando a liderança do presidente, e a determinação do Tribunal Constitucional que habilita a candidatura de Evo para as eleições de 2019, marcam as tendências do processo político.
*Antropóloga e economista boliviana, e analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégico (CLAE)